Honestamente, eu não sei em que ponto de nossa história ficou perdido o amor, se é que assim podia ser chamado. Dizem por aí que amor não cobra, não briga e não separa, apenas une. Mas, há controvérsias, tendo em vista que te amei. E quanto. Não sei mais da sua vida, a não ser quando, entre uma digitada e outra, nos esbarramos em uma janela fria e quadrada na qual você insiste em me chamar para dizer, em letras miúdas e pretas, que vai me fazer feliz novamente. Não, não vai. Com uma clareza absurda, respondo em palavras secas que tudo aquilo que regava o sentimento já foi recolhido, e o jardineiro está de férias. Na verdade eu sou a jardineira, e até tenho tido plantado algumas flores em um cantinho, mas o jardim central está de certa forma abandonado, e assim pretendo deixá-lo.
Eu só queria que você entendesse um pouco mais. Que enxergasse por trás do que meus olhos te diziam naquela noite, e visse que aquela árvore já não era mais a mesma, forte e cheia de frutos que já fora. Mas ela deu muitas alegrias e galhos. E vai continuar lá. Árvores são mais duradouras que flores, você vai me dizer. Mas, com o tempo, passam a endurecer-se e perder o vigor. As flores, por sua vez, colorem e perfumam, e, antes mesmo que se possa sentir, morrem. Não que eu esteja em busca do passageiro. Acontece que tenho tentado plantar algumas árvores, e talvez não seja bem a hora. Não tenho sido a mesma, não sei lidar com situações nas quais tenho certeza que agia diferente.
De qualquer forma, continuo ouvindo as mesmas músicas, escrevendo os mesmos textos melancólicos e dizendo as mesmas bobagens de sempre, com esse jeito moleque que você tanto ama(va). E então eu andei lendo textos de amor, esbarrando em algumas esquinas e dando de cara com o imprevisível e até mesmo duvidoso, mas me safei. Acontece que eu sempre soube ser mais racional, ou pelo menos aprendi a fingir ser assim. E a verdade mais pura é a de que talvez você esteja sim, certo. A árvore continua ali, plantada e fazendo sombra. Mas, por enquanto eu quero me queimar.
Gabriela Vilaça
Ou apenas Gabi, que me deu a honra de abrir esta série de publicações do aniversário de 6 anos do contradição™. Ela também escreve em seu blog pessoal Eis a questão.
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… tenho lido… e como sempre, tenho gostado… abraço mano… belo texto da sua amiga, são assim como os seus.
Muito bom, principalmente o final. Mais uma vez, parabéns ao Kleber pela ilustração. Esperemos mais textos vindos da série de publicações do aniversário. Muito bom!
Comecei a ler o texto sem saber onde ele iria chegar, mas alguma coisa no meio do caminho [da leitura] me prendeu de uma forma louca e me peguei indignado com o “você” da Gabriela… Um texto realmente gostoso! Muito bacana mesmo! E a Amanda disse bem, as ilustrações dos textos ficaram ótimas! Muito bom! 😉
Parabéns pelo texto! Lindo!!
Gente, só hoje vi os comentários nesse post. E como fizeram meu dia feliz! Obrigada a todos que leram e gostaram…. Um beijo!